Deputado Transmontano mostra o que vale
De Barroso da Fonte, com votos de bom 2016:
"Sempre tive por Ascenso Simões uma simpatia que me foi passada pelo Padre António Maria Cardoso que o casou. Tinha por este sacerdote Duriense uma certa veneração que levarei para a cova. Já eu era seminarista. Mas quando em 1954 Nossa Senhora de Fátima percorreu a Diocese, ouvi-lhe tão inflamados sermões sobre Maria que eu sonhava imitar, um dia, se eu viesse a ser padre. Não consegui ser padre por causa de uns versos que fiz a uma miúda. Na altura o correio das moças era, primeiramente, lido pela mãe. E, quando eu pensava que os versinhos que puseram termo à minha vocação, haviam sido recebidos pela mãe e entregues ao então prefeito do seminário, este exemplificou a homilia matinal com a reprimenda de que o menino que escreveu aqueles versos, no final do ano deveria ficar em casa. Enfiei a carapuça, não fiquei com cópia dessas estrofes e, presumo que a musa, também não chegou a ler os inofensivos versos.
Quer o Padre António Cardoso quer aqueloutro que interrompeu os meus dez anos de seminarista, ainda são vivos. Do primeiro tenho saudades, admiração e muito respeito porque sempre me respeitou e me incentivou quer no caminho do jornalismo, quer no associativismo da guerra, na escrita e no convívio social. Sei que está internado e apenas peço a Deus, a Quem serviu que se encarregue de o levar para junto dos seus eleitos. Do outro nada direi porque se limitou a cumprir as regras da Comunidade.
Abro com esta confissão porque estou com os pés na cova e gosto de, enquanto me reconheço com alguma lucidez mental, exteriorizar pecadilhos que assumo e que apenas servem para me prender à fragilidade que sempre tive como humano.
Volto ao relacionamento que tive com o Padre Cardoso para dizer que muitas vezes me confidenciou ter ele pelo Dr. Ascenso Simões uma simpatia muito especial. Daí que também eu, mesmo como jornalista, nunca a ele me tivesse referido. Primeiro porque nunca tive nada que me induzisse a qualquer reparo. Segundo porque sempre acompanhei com apreço a sua postura social, cultural e cívica. E ainda, durante o último Congresso de medicina popular em Vilar de Perdizes, me deu um caloroso abraço, próprio de quem se estima e se respeita.
Ora no JN de 27 de Dezembro último li e gostei muito, mesmo muito, de uma notícia assinada por Helena Teixeira da Silva, que em caixa alta escreve: Deputado do PS vigia programa de Costa – Ascenso Simões promete fazer balanço das medidas prometidas pelo governo a cada um dos cem dias. Lê-se no texto que Ascenso Simões, 52 anos, transmontano, eleito pelo círculo de Vila Real, quer iniciar «uma nova forma de desempenhar a função na Assembleia da República: alienando privilégios, prestando contas semanalmente, fiscalizando o programa socialista e estabelecendo uma relação de maior proximidade com os eleitores».
António Barreto que é de uma geração anterior à de Ascenso Simões e que, por isso pisou os caminhos escolares de Vila Real, anos depois, assinou no Diário de Notícias de 8 de Novembro findo, um libelo acusatório ao tentar demonstrar que «O Parlamento não existe». Chega a afirmar que «a situação actual da Assembleia da República não é totalmente inédita e não data apenas deste último mês. É ponto de chegada de um processo gradual de subalternização e decadência de que há numerosos indícios. Vários foram os sinais dados. Aluga-se o hemiciclo para festas e filmes! Nos Passos Perdidos fazem-se exposições! No rés-do-chão canta-se o fado! Nos claustros, come-se sardinha e bebe-se geropiga! De vez em quando, crianças das escolas brincam aos deputados! Este Parlamento mete dó!»
No meio deste marasmo parlamentar parece ter sido excepção à regra. «Fui até hoje, o único deputado que fez o que estou a fazer», disse Ascenso Simões. A grande novidade que anuncia através desta voz pública é pretender «a cada cem dias, fazer o ponto da situação de 150 medidas fundamentais do programa do PS. Estabeleci três cores: vermelha para as medidas que não saíram do sítio; amarelo para as que já avançaram; e verde para as que estão concluídas». Esta será a forma de respeitar os compromissos éticos que assumiu quando foi eleito». Além disso vai passar a fazer um vídeo semanal no qual explica o que esteve em discussão durante a semana. «Depois envio o vídeo por e-mail para seis mil endereços do meu círculo. Disponibilizo-o à comunicação social e coloco-o nas redes sociais».
É preciso dizer não, quando a turba-multa quer que se diga sim. Ora os deputados não devem ser autómatos, paus mandados, papagaios que se limitam a dizer aquilo que o dono lhe incutiu a troco de uma ração reforçada.
Sabe-se que Ascenso Simões esteve ao lado de António José Seguro. Costa não é aquele bonacheirão que o seu vermelhusco nariz faz crer. Já se vingou excessivamente de Trás-os-Montes e dos socialistas Transmontanos ao chamar para o governo apenas um secretário de Estado de Bragança. Esse mesmo cargo já Ascenso Simões o havia desempenhado. Os distritos de Vila Real e de Bragança mereciam maior e melhor representação governativa".