Chaves e a grande Guerra (1914-1918)
De Barroso da Fonte:
"Entre 1914 e 1918 decorreu o primeiro conflito mundial em que Portugal entrou com participação ativa desde Março de 1916 a Novembro de 1918. De Julho de 1914 a Março de 1916 o país discutiu internamente a opção sobre se deveria manter-se neutro ou deveria entrar no conflito. Em Março de 1916 já tinha optado pelo sim e acabou por ter de preparar um Corpo Expedicionário para prestar serviço na Flandres. E no âmbito da velha aliança com a Inglaterra, em 18 de Agosto de 1914 o Exercito Português passou a mobilizar tropas para Angola e Moçambique, sem que tal facto redundasse em beligerância por parte da Alemanha.
Um século depois, por todo o país, os investigadores e os políticos procuraram assinalar a memória dos seus combatentes. Os cemitérios e lugares públicos, das cidades, vilas e algumas freguesias, assinalaram esses Combatentes, cujos filhos, avós e a consciência cívica tiveram o bom gosto de perpetuar.
Chaves, sede dos concelhos da região do Alto Tâmega, viu partir do seu Regimento de Infantaria nº 19 para os três territórios: Angola, Moçambique e Flandres, nesse período bélico, vários batalhões e companhias militares. Para dar aos descendentes ainda vivos, a certeza de que ainda os não esqueceram, o Grupo Cultural Aquae Flaviae, conjugou forças (militares, académicas, civis e políticas), para editarem uma obra que materialize aquela homenagem. Tarefa árdua por ampla, dispersa e materialmente cara. Somente seria possível por iniciativa de espíritos com força interior, capacidade de resistência física e mental do ímpeto daqueles valentes guerreiros que deram tudo o que podiam dar, para honrarem a missão que os chamou e para salvação dos próprios que partiram e por lá andaram, protagonizando «as passas do Algarve». Cada história daria uma «estória». Mas a História de Portugal deste quadriénio está por fazer, o que não honra tantos milhares de historiadores profissionais que anualmente saem, ou pelo menos vivem da e para as Universidades pagas pelo erário público, sem que produzam para o erário público que lhes paga, as contrapartidas que deveriam ser os registos dos principais factos que a História de Portugal merece que sejam registados para memória pública. Um século depois os Historiadores profissionais ainda não cumpriram os deveres da cidadania. E é por isso que nos empobrece e nos obriga a saudar esforços de toda a ordem de Instituições como o Grupo Cultural Aquae Flaviae, do Comando do RI 19 e do cidadão Dr. António de Sousa e Silva.
De facto, o Grupo Cultural e a revista Aquae Flaviae que dele emana, através da sua responsável Drª Maria Isabel Viçoso, foram além daquilo que lhes seria exigível: sobrepuseram-se a serviços e a investigadores a quem o erário público concede meios técnicos e financeiros que foram insensíveis a estudos parcelares e globais de um período nevrálgico para o verdadeiro, profundo e urgente interesse nacional já exigiam há décadas. Um século depois é muito tarde para gente que nasceu, viveu e morreu sem conhecer o drama humano, social e político da História do seu país. Meio século depois aconteceu outro drama social e político: a descolonização. Mas em nome deste gastou o erário público pipas de dinheiro, para realizar filmes falaciosos, para criar museus, arquivos e bibliotecas, com todo o tipo de argumentos sem nexo, falsificados ou narrados por escribas, alguns deles para vanglória pessoal ou de grupo.
A Revista Flaviense de que, - com vaidade o digo sou sócio fundador nº 5 – surpreendeu tudo e todos, ao editar a edição número 50, da revista do mesmo nome, com 632 páginas, mais seis tomos com as fichas de todos os militares dos concelhos periféricos. E um sétimo com os nomes dos mobilizados pelo RI 19, mas naturais de outros concelhos. Foi um trabalho insano, em tempo recorde e com a metodologia científica que nenhuma regra académica poderá reprovar. Para que possa ter-se legitimidade para censurar algo que se faça, acerca da vida de um país, apenas terá legitimidade quem tenha feito algo melhor ou parecido, antes que outros o fizessem, acerca dos mesmos factos e nas mesmas circunstâncias.
A revista semestral, é distribuída gratuitamente aos sócios. O GCAF. Foi fundado em Abril de 1986 e com esta edição completa o ano de 2015. O valor da quota associativa é igual ao preço gráfico de um dos vários volumes, ora editados. O Grupo Cultural, os autores desta magnífica colaboração a os concelhos do Alto Tâmega e a cultura Portuguesa prestam um relevante serviço aos Transmontanos, ao País e à Sociedade internacional pelo trabalho que produziu e colocou aos dispor dos apaixonados pela História de Portugal. Não cabe nesta nota de leitura a dissecação de cada volume. O volume principal ocupa integralmente a história da «Grande Guerra e a participação
dos militares do RI 19 e do Alto Tâmega no conflito». Estas 632 páginas são da autoria do Dr. António de Souza e Silva. Quer o índice quer a estrutura e exposição mais parecem uma investigação científica para a obtenção do grau doutoral. Um trabalho exaustivo que faz deste Flaviense um verdadeiro historiador. Igualmente lhe pertenceu a organização do volume dedicado a Montalegre. Já o mais volumoso tomo dedicado aos participantes na G. Guerra nele inseridos (que é dedicado aos participantes do Concelho Flaviense) se ficou a dever ao Coronel Armando dos Santos Ramos, comandante do RI 19. Uma parceria social e cultural que honra e proclama as três entidades que assinam esta portentosa obra cuja que fica a dever-se, antes de mais e acima de tudo, pela postura cultural, cívica e humana da Drª Isabel Viçoso. A sua perspicácia, sua competência, honestidade e propensão para o diálogo são motivos fortes para distinguir esta Barrosã que merece o seu nome na toponímia Flaviense. A qualidade das suas obras, o mérito pedagógico do seu saber, o apego às causas e a disponibilidade permanente para assumir o interesse público, são virtudes que exornam esta talentosa Barrosã que escolheu Chaves para viver".