Coberturas de macúti
Atravessada a ponte entramos na ilha que antes de Maputo foi a capital de Moçambique, e que Vasco da Gama descobriu em 1498. A foto, se ampliada, dá para imaginar como seria o aspecto urbanístico da ilha antes dos portugueses lá chegar e como a deixaram após os "capitães de Abril" por sua conta e risco a terem devolvido aos moçambicanos.
Da cultura e da obra construida durante a ocupação portuguesa têm os moçambicanos consciência e as altas esferas da cultura universal também o reconhecem, de tal modo que desde 1991 temos a ilha classificada pela UNESCO de património cultural da humanidade. Distinção que honra sobretudo o labor das inúmeras gerações anónimas que com o seu engenho e arte deram corpo e vitalidade a este encantador pedaço de terra que como boia abandonada o Indico ali conserva isolada com Vasco da Gama muito bem entronizado.
O ser humano que por natureza é dominador também dentro da sua espécie faz luxo na demarcação de espaços e diferenciação social, que na Ilha de Moçambique resultou no fundar uma cidade com dois tipos de construção urbana. A parte norte da ilha com a fortaleza de São Sebastião e o Palácio de São Paulo entre os principiais edifícios são parte da cidade de "pedra e cal" enquanto a parte sul delimitada pela igreja de Nossa Senhora da Saúde e tendo de mais realce o fortim e a igreja de Santo António é caracterizada pelas cercas e cobertura das habitações em macúti, folha de palmeiras. E, claro, morada dos obreiros....
Fortim e igreja de Santo Antonio
Emoção sente qualquer estrangeiro quando fora do seu país encontra o símbolo da sua patria ou algo que lhe recorde a nacionalidade ou origens. Foi isso que me invadiu quando ali dei conta de um padrão com as "Armas" de Portugal realçadas. Ser agradecido, não é virtude que hoje se pratique com vulgaridade, honra portanto seja feita a Moçambique. Também os portugueses nem tudo terão feito bem, mas ao contrário de muitos outros que hoje abancaram no país não foram para lá apoderarem-se da riqueza da terra, foram antes aumentá-la e fazê-la produtiva.
Não têm os portugueses nada a ver com a destruição e desleixo que fui encontrar nesta minha primeira visita à ilha que deu o nome a Moçambique, e como li em Jornal de Noticias local de 12 de Set. de 2009 " a melhor vacina contra a guerra está na cultura e na arte". Também lá vinha: "A ilha de Moçambique continua a não se aguentar , com a sua coluna vertebral sempre a curvar em direcção à sua queda de velhice. Tanto se diz mas não parece que haja algo concreto para adiar a morte natural da primeira capital do nosso País". É um moçambicano que fala e por isso está tudo dito.... Os visitantes destas imagens que digam e pensem o resto.
O que foi na ilha o famoso Sport Club de Moçambique (SCM)
Foi um edifício dos grandes na cidade de Pedra e Cal...
Ainda serve como tribunal
A miséria enclautrada...
Também na cidade de "pedra e cal" há coberturas de macúti