O 25 de Abril
Fez hoje, por volta das 6h30, precisamente 32 anos que descendo a Calçada da Ajuda, vindo do lado da igreja da Memória, logo passando a porta de armas do então Regimento de Cavalaria 7, fui surpreendido com a voz forte do coronel Rameiras, comandante daquela Unidade, a ordenar a saída para a rua dos blindados daquela prestigiada unidade militar. Àquela hora ainda não se via ninguém a circular nos passeios, apenas eu e só porque nesse dia me tinha comprometido ir a Santa Apolónia esperar um conterrâneo que vindo do norte ficou de ali chegar entre as 8 e as 9h00. O coronel Rameiras era meu conhecido, mas nem por isso deixou de me intimar a parar e a dizer o porquê da minha presença ali àquela hora do dia .Lá me expliquei e ele condescendente deixou-me passar. De pouco valeu a sua gentileza, pois chegado à paragem dos eléctricos, em frente ao Museu dos Coches, vi um parado na linha e assim se manteve ali durante toda a manhã. Entretanto os blindados partiram pela Avenida da Índia em direcção ao Terreiro do Paço ( Praça do Comercio) e eu já sem poder deslocar-me a Santa Apolónia, acabei por ali me demorar e ficar a saber, pela boca dum padeiro da zona, que estava na rua uma revolução de jovens militares (os Capitães de Abril) . E soube dias depois pelo próprio me ter contado que só não houve um derramamento de sangue nesse dia, graças ao ter ponderado e não ter mandado fazer fogo. Dos revolucionários só ao Marechal Costa Gomes é que o coronel Rameiras nunca perdoou, devida à falta de confiança que na altura teve para com ele.