Por Barroso da Fonte
Desde 1975 não houve verão mais arreliador. Politicamente não deixa saudades. Foi a esquerda que ligou as ventoinhas. Mas as ameaças de incêndio ficaram na retina daqueles que se envolveram nas Andanças de Castelo de Vide e que assistiram, desesperadamente, à destruição de 422 viaturas, mais os pertences dos seus ocupantes. Afinal foi terá sido um cigarro mal apagado...
Quem desequilibra as temperaturas não é o povo. Mas é ele que apaga todos os fogos, com a sua paciência, tolerância, resignação e às vezes com a própria vida.
Num só dia (7 de Agosto) ocorreram 455 fogos. E o Secretário de Estado dessa área veio dizer que está provado terem esses crimes início, entre as 8 h da noite e as 8 h da manhã. Esta afirmação, tão clara e tão evidente, deveria ser correspondida com medidas drásticas: em vez de ter o policiamento nas cidades, nas festas, à porta das discotecas, nas inaugurações, a vigiar comícios, residências de ex-políticos e jantaradas privadas com foguetes de artifício, poderiam fazer noites de vigilância nos montes, uma vez que dos pontos mais altos, seria muito mais fácil identificar os malfeitores. Um estudo prévio às zonas a vigiar, mal a labareda fosse localizada, graças à facilidade que hoje há, com os telemóveis e GPS, seria caça certa. Assim o poder político entenda acabar com a segunda guerra mais mortífera, mais cara e mais dramática em Portugal. Quem viu e ouviu as reportagens televisivas, com o país a arder desde Trás-os-Montes à Madeira, nos dias 7 e 8 do corrente, vendo a fragilidade dos meios aéreos e os gritos de desespero das populações, irrita-se contra o ministro do ambiente que se limitou a dizer que «apesar dos 455 fogos de Domingo e os quase tantos no dia seguinte, a área ardida é inferior à dos anos anteriores». É deplorável, é ridículo e é provocante. O Secretário de Estado garantiu que «a maior parte dos incêndios é fogo posto, entre as 8 da noite e as 8 da manhã». O ministro deveria preocupar-se com esse elemento conhecido: «a mão humana». Com desculpa esfarrapada o Ministro Matos Fernandes, preferiu desviar a água do capote, como se a gravidade dos incêndios se possa media pela área ardida...Valha-nos Deus, Sr. Ministro...
Quando se conhecem as origens dos crimes públicos, o tipo de criminosos, as horas e os métodos e não se tomam medidas, dispondo de todos os meios, incluindo políticos, é ser conivente com essa trágica realidade. Se António Costa que nesses dias ser mostrou no Algarve em calções de banho, fosse mais coerente com a responsabilidade política que a todo o custo assumiu, tinha interrompido as férias, mais cedo, para coordenar as operações. Mas cada país tem os políticos que merece.
A saga dos incêndios nasceu com a liberdade de fazer tudo o que é mau para a sociedade, mas é bom para alguns que sempre viveram da chulice, da fraude, da anarquia e da brandura das leis.
Todos os anos, tememos o verão, por causa dos incêndios. Se está provado que existe uma epidemia social e política que aterroriza, aqui, ali e acolá, de noite e de dia, no campo e na cidade que se vale da escuridão, da morosidade da justiça, das amnistias e do faz de conta. 41 anos depois desta saga, já deveriam os políticos ter aprendido com os erros de cada ano que passa. As vidas que se perdem, os martírios que as populações sofrem, os prejuízos que se causam a quem vive da terra, mais os encargos com as máquinas, aéreas e terrestres, com os animais que o fogo queima, merecem alterações profundas. A vigilância das florestas e dos locais que possam servir de esconderijo dos criminosos devem estudar-se, mediante formação atempada e com critérios seletivos, com base no caráter e espírito cívico. O recrutamento deveria ser feito entre desempregados que tenham garantia de trabalho sazonal. E nunca deverá prescindir-se do apoio dos militares e militarizados porque se trata de um serviço cívico de que não podem alhear-se.
Sabendo-se que este é o flagelo social mais revoltante, mais terrífico e mais prejudicial à vida nacional, qual a razão por que não preparar o exército, a marinha e a força aérea, mais as diversas polícias, para, em conjugação com os Bombeiros, prestarem ao País e aos seus habitantes, a tranquilidade a que têm direito? A ministra da Administração Interna – e muito bem - «descobriu» uma série deles, nas messes, bares e «impedidos» e «gratificados». Acabem com esse luxo!
Este drama é tão grave nos dias de hoje, como foi nas décadas de sessenta e setenta, a guerra do Ultramar. Façam bem as contas e digam aos políticos que tenham a coragem de olhar mais para a realidade social do que para as guerrinhas de alecrim e manjerona. Que em vez de escandalizarem com boleias duvidosas para irem ver jogos de futebol ou outras diversões censuráveis, discutam. Decidam e tranquilizem os cidadãos.
Nunca percebi que ocupações são essas de milhares de jovens dos dois sexos que nos três ramos das forças armadas somam anos e anos, sem que o país conheça os benefícios que produzem. Não havendo guerras a enfrentar, o país continua a pagar a oficiais e sargentos do quadro permanente. Continuamos a ter, às dúzias, generais, coronéis, majores, capitães, tenentes, alferes e sargentos de vários graus, como se ainda houvesse guerras no solo português.
Sabe-se que, de longe a longe, vão alguns desses militares cumprir missões internacionais. Mas que fazem os outros em tantos quartéis que nada produzem de útil à sociedade?
De longe a longe há paradas militares, guardas de honra. Chegam bem equipados, com fardas bonitas, galões dourados e estrelas brilhantes, ornando as peitaças. Executam, ao toque de instrumentos apropriados, continências, gestos e frases de guerra. Não significa que percam esse estatuto. Mas o país sente-se mais solidário, mais coerente e mais justo.