A força que tem o mar!
Esta é a Rotunda Norte ou da Cáritas da Praia do Pedrógão que em Setembro ultimo um temporal quase tornou irreconhecível; mas como não bastasse, vieram as mais recentes tempestades agravar a situação. Pese ser a minha praia desde há uns quarenta anos a esta parte, e de muito já ter escrito a seu respeito, o facto é que desde o Verão passado nunca mais por lá passei. Para ver misérias, bem me chegam aquelas com que me cruzo na rua.
Mas no domingo dia 16, uma alma caridosa lá se lembrou de me convidar para lanchar fora da capital do barro, e carro cheio (é de 7 lugares), escolheu como destino o Pedrógão.
Fiquei desolado e triste por ver a praia que bem conheço no estado que o temporal a deixou, e as fotos da Rotunda Norte aqui mostram. A força que tem o mar!
Como um pouco por todo o litoral, também na terça-feira, 07 de Janeiro, foi dia de contabilizar os estragos causados pelo temporal que se abateu em todo o país e que no Pedrógão causou danos que além dos prejuízos vão demorar a sanar. Apenas um dia bastou para o mar “comer” a praia Norte, e danificar o paredão. Não apenas o areal, como parte do passadiço que dá acesso à praia desapareceu e o muro do paredão abriu extensas brechas.
Mas antes de continuar com a reportagem fotográfica vale dizer que a Praia do Pedrógão é a única praia do concelho de Leiria, e fica situada a norte da foz do Lis, muito próxima da praia da Vieira. Pertence à freguesia do Coimbrão e disse dever o nome a um afloramento rochoso que ressai no areal, conhecido pelas “Pedras”; e as divide em Pedrógão Norte, onde fica a povoação antiga; e o Pedrógão Sul, pelo areal que por vezes chega a desaparecer
Dos estragos conta a moradora ti Encarnação Quiais : " nunca tal coisa me lembro; antigamente, noutro tempo, não havia barreiras e o mar, no Inverno, batia por vezes na muralha, mas nada como isto".
Já o presidente da Junta de Freguesia do Coimbrão, Ventura Tomás, revela à Região de Leiria a sua intenção de reportar a situação à Agência Portuguesa do Ambiente (APA). E o autarca faz saber que as marés vivas, habitualmente “expectáveis” lá para Outubro, desta vez “vieram mais cedo”.
Recorda ainda que "quanto aos danos provocados pela erosão e o avanço do mar no Pedrógão, “a tendência é agravar-se se não se fizer nada a montante”, lembrando os vários alertas enviados à tutela".
Não é espectáculo que agrade ver, pelo que tem de trágico, mas que desperta curiosidade a quem dá apreço às emoções fortes, não tenhamos dúvidas. E disso deu provas a quantidade de forasteiros que no domingo, dia 16, fui encontrar no Pedrógão. Quase comparei com um daqueles dias de Agosto, em que os veraneantes ocupam todo o areal e ruas da piscatória estancia balnear.
Dos curiosos aproveita o pequeno comércio local, sobretudo os cafés que nestes fins de semana têm aberto para recuperarem as percas dos efeitos do temporal
E lá fui encontrar uma avó feliz que foi da Gaspara mostrar o mar ao neto.
Entretanto o homem apoiado na maquina tenta remediar os estragos deixados pela onda, e repor as areias desaparecidas, por forma a que na próxima época balnear, que vem aí, os veraneantes possam gozar do sol e aguas da Praia do Pedrógão. Assim o tempo deixe, e as maquinas tenham condições para escavar e transportar as toneladas de areia que faltam na praia e o mar engoliu.
Acompanhei este trio desde a rotunda da Cáritas até à rotunda das Pedras, 1800 metros, a ver um mar menos ameaçador, mas nunca de fiar...Mas outra coisa vi: que as pessoas gostam de enfrentar o perigo. Por mais que as autoridades recomendem para não se aproximarem dos lugares perigosos é onde as pessoas se juntam mais e desobedecem. Também se assim não fora, Vasco da Gama não chegava à Índia, nem Pedro Alves Cabral ao Brasil.
A caminho das Pedras não sou só eu a fotografar
Uma perspectiva das Pedras.
A rotunda das Pedras onde fomos parar para um lanche que os ares do mar fazem apetecer, mas que a concorrência de curiosos, como nós, obrigou a seguir viagem até à "Serração", nas Várzeas
Mas antes passamos pelas antigas salinas da Carreia, para mais abaixo visitar a foz das águas que das Cavadas da Bouça (Bajouca) por Santo Aleixo e Aroeira (Monte Redondo) vão desaguar no Lis. E aqui as temos em força, passando por baixo da ponte, para darem entrada no rio. Rio que também fez das suas, ao longo do seu percurso.